“... Sob a Tua Palavra lançarei as redes" (Lc 5.5b)


'O Teu caminho, ó Deus, é de santidade.

Que Deus é tão grande como o nosso Deus?

Tu és o Deus que opera maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o teu poder" (Sl 77.13-14)


quinta-feira, 11 de julho de 2013

'Piririgos e suas revelações' (Deborah N. Couto)

“PIRIRIGOS”

Nada como um lindo e ensolarado dia de desarranjos pra colocar a gente pra pensar na fluidez... ou na fluência da vida! Estou no ultimo ano de faculdade e ultimamente lembro disso com quase a mesma freqüência que minha atual calamidade fisiológica me leva a visitar o banheiro. 
Acho que isso acontece por preocupação, precaução ou mesmo pela simples novidade de pensar que ano q vem não mais serei apenas uma estudante com piriri, mas sim uma médica... com piriri também caso continue a me alimentar com elementos de validade e procedência indeterminada.

O ponto é q eu, no auge da minha quase formatura percebo q qdo estou doente permito q meus neurônios escorram por onde acharem mais cômodo, conforme a localização das minhas mazelas, e passo a ser tão fatalista e inocente quanto um lactobacilo sensacionalista. Não q os lactobacilos sejam mto inocentes... (Aliás, pode ser q eles estejam intimamente ligados com a minha situação intestinal). 

Quanto ao meu fatalismo, chega a ser comovente, visto que na minha cabeça recém esvaziada, “piriri” passou a ser a primeira causa de internação e mortes precoces em jovens previamente  sadios. Minha estatística, invento eu! (Lembrando que piriri é a forma bonitinha de nomear diarréia... ou mesmo de disfarçá-la entre nomes de peixes em um caça-palavras).

Toda essa terrível calamidade fez com que a quase médica da família ouvisse atentamente os conselhos sobre saúde de uma jovem e bela senhora bióloga, doutora especialista em abelhas e com uma genética invejável. Sim, minha mamãe!  Foram ótimos conselhos, por sinal, e sei que nenhuma abelha morreu desidratada nas seguras mãos desta gentil senhora com genes impressionantes... Mas não é estranho que eu pareça tão desprotegida e desorientada perante um evento desses?

       Não! Absolutamente não! Entenda porque a seguir... Chego a algumas conclusões... Talvez dentro de assuntos que ineditamente tem me chamado bastante a atenção, ultimamente.

É incrível como precisamos uns dos outros, tenho pensado. Por mais q se tenha sido criado no meio de abelhas, cogumelos e peixes ornamentais, chega uma hora que reconhecemos que a vida é bem mais legal qdo se pode contar com pessoas ao redor ou mesmo com receitas anti-dor-de-barriga por telefone. Não é legal ser sozinho. E hoje eu entendo o medo q já vi em tanta gente de envelhecer sem ninguém por perto, ser rejeitado por quem ama ou se perder no metrô (por ultimo e não menos importante, é claro). As queixas procedem! 

E até algum tempo atrás eu vestia minha carapuça de ser humano auto-suficiente e saia por aí “não precisando” de ninguém. Tentativa frustrada! Isso não significa q eu procurava ser fria e antipática ou q era a favor do extermínio da raça humana...  muito pelo contrário. Mas eu dificilmente me convenceria q estaria apegada a alguém, e me refiro as pessoas de fora da minha família. 

Mas hoje eu confesso! Preciso de pessoas por perto! Pessoas q me mandem comer bolacha de maizena pra prender meu intestino! Pessoas q falem q minha roupa tá tão amarrotada quanto meu cabelo quando durmo com ele molhado ou quanto as minhas bochechas, quando durmo com a cara em simbiose com o travesseiro. 

Então, pra vc q já pensou q existem pessoas frias, más e calculistas e ousou me enquadrar nesse perfil, ofereço meu meloso e sentimental: Eu preciso de vc! Vc pode achar q falo isso da boca pra fora... especialmente levando em conta que esse texto é fruto de uma disfunção orgânica bem sugestiva e que, diga-se, não é das mais bonitas de se relatar. Mas é a verdade. Posso adquirir mtas formas de independência, mas espero q nenhuma delas me afaste daqueles aos quais amo.

É... Deus sabia disso e criou os relacionamentos: Dolorosos, alegres, assustadores, gentis... Necessários! Quase fundamentais...  E muitas vezes só descemos do salto e confessamos isso quando parece q estamos perdendo algo. Ok. Perdemos aqui, ganhamos ali – a vida é feita disso. Mas acabamos eventualmente sentindo falta, especialmente quando um piriri nos comove as vísceras.

Hoje estou no fim da minha vida de estudante universitária, muitas vezes ansiando o final do ano em que acabará, pelo menos em partes, as cenas típicas de república: local em que ocasionalmente esquecemos que a casa não é auto-limpante, que nos damos conta que nem tudo que se joga na panela sai de dentro dela obrigatoriamente “comível”, onde estudamos a fantástica fauna e flora observando a convivência harmônica de pequenas porções de fungos na geladeira e aranhas no cantinho do teto... e também, onde confessamos que família faz muita falta, que alguns amigos que estão longe foram especiais, que alguém pra se preocupar conosco é uma deliciosa massagem no ego.

Sei, entretanto, que daqui a algum tempo vou sentir falta dessa vida estranha... e também muito boa. Vou, então, criando novos ambientes, convívios e relacionamentos. Mas as lembranças e pessoas que ficam no nosso coração por essas caminhadas são, de fato, incrivelmente marcantes. E hoje confesso isso... É isso.



E, para quebrar um pouco a melancolia desse final sentimental e aproveitando tal momento de desabafo, dedico um caloroso abraço para as toxinas bacterianas que possibilitaram essa criação e às respectivas matrizes das mesmas, com carinho.

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